10.1.06

Desde que me lembro que gosto de ler.

Gostava tanto de ler que ficava acordada até tarde, que lia às refeições, que fingia doenças só para poder ficar em casa, sossegada a ler. Às vezes os meus pais vinham controlar se eu não estaria a ler à meia noite ou a ler doente ou a ler em vez de estudar. Por isso tive de aprender a fingir que não estava a ler. Escondia os livros de ler no meio dos livros de estudo quando estava a fingir que estudava, e debaixo da cama quando estava a fingir que dormia ou que doía. Mas os meus pais suspeitavam de alguma coisa porque iam verificar debaixo da cama se não estaria por lá um livro perdido, e eu comecei a aprender a esconder os livros na estante, onde eles não procuravam.
Uma vez tentei ler nos intervalos dos exercícios de matemática na escola, mas a professora puxou-me as orelhas e desisti. Às vezes os meus pais iam à casa de outras pessoas, e eu ia tambêm, e gostava mais ou menos de ir conforme a biblioteca que as pessoas tinham. Gostava muito de ir a casa da tia M. que tinha banda desenhada, e da tia S. que tinha romances, mas o que eu gostava mesmo de fazer era de ir a casa da tia O. a pessoa mais feia e com mais mau feitio do mundo, mas que tinha um sotão recheadinho de livros (e que também fazia compota de maçã).
Livros é a melhor prenda do mundo. Há livros aos montes para os que gostam de ler, e há livros com poucas e nenhumas letras para os que não gostam. Há livros em ouro para os que dão valor ao valor, há livros em segunda mão para os menos abonados, e há blogs que se podem agrafar para os tesos de todo.
Acho que o pior castigo do mundo deve ser estar preso e não saber ler.

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