2.1.06

duas rimas estúpidas

Descia a rua, de carro. Do meu lado esquerdo, a cooperativa de habitação económica Sonho de Abril. Arquitectura sem qualquer vigor revolucionário, nem frescura primaveril. (Olha, rimou. Tenho que me cuidar, para não acontecer muitas vezes. Não tarda, começo a escrever sonetos.)
As gotas traçavam linhas transparentes sobre o pára-brisas embaciado. Os meus olhos fitavam os traços descendentes e os coágulos de água de formas arpianas. Nestes, repetiam-se os fragmentos de asfalto, de relva mal amanhada e de janelas, paredes tristes e passadeiras, na mesma deformação convexa.
Só pensava: porcaria de tempo. Lá fora, céu cobalto pálido com nuvenzinhas violeta; não pára de chover, aqui dentro.
Passei à esquerda do sonho mau e então a estrada rachou. A água do rio à minha frente.
Lisboa é assim: uma gaja pode até estar num fim do mundo, que todas as águas escorrem para um Tejo ao fundo.

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