1.10.06

Querer mais

Tem piada que à medida que o tempo passa pensava que as tempestades interiores amainassem, tranquilizando temores e terrores antigos e suavizando vazios que nunca foram preenchidos. Mas os anos não nos suavizam a alma nem esbatem as memórias que nela ficaram gravadas. Envelhecer não é morrer. Envelhecer é viver mais. É sentir mais. É querer mais. Talvez porque os anos, tantos, já passaram assim de repente e hoje os vazios são maiores, e os temores assumem proporções assustadoras e por vezes devastadoras dentro de nós. Cada olhar agora é como se fosse o último. Cada toque é mil vezes mais intenso. Cada palavra desfaz ou refaz a esperança que ainda temos de sermos um dia felizes numa vida que o é cada vez menos.

Por dentro estou mil vezes maior do que era antes, mas por fora sinto-me mil vezes mais enfraquecida. As feridas pequenas nunca cicatrizaram, transformaram-se em sulcos profundos que me tolhem os movimentos e me lembram que já não sou o que era. Envelhecer é sentir que a alma, ou a consciência ou o que seja que faz de nós o que somos, é cada vez maior face a um invólucro físico que cada vez nos serve menos. Apetece-me pedir para trocar! Chegar ali ao balcão de reclamações (onde fica?) e reclamar bem alto: olhe troque-me! Agora quero ter 25 anos outra vez! Não me importa ser bonita ou feia, mas quero não sentir o peso da idade nos meus ombros! Quero não sentir a dor das articulações inflamadas de cada vez que me aventuro em gestos mais ousados!

Quero ser jovem outra vez porque quero voltar a amar, perdidamente e loucamente. Não sei amar sem me apaixonar e não sei estar apaixonada sem ter como ir ao fim do mundo e voltar num só minuto e repeti-lo uma e outra vez até à exaustão! E quero não mais sentir que este meu corpo é uma prisão.

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