12.3.07

A distância protege-nos do distanciamento

Quando estamos, fisicamente, longe daqueles que amamos, fazemos o esforço conjunto de nos mantermos perto.
Quando dois amigos estão longe escrevem-se, telefonam-se, enviam fotografias dos locais bonitos que visitam, das pessoas que os rodeiam, de si mesmos. Sentem a necessidade de não deixar passar muito tempo sem qualquer contacto e de não deixar existir o distanciamento.
A distância protege-nos, acolhe-nos e afaga-nos o espírito e o ego. Estar longe significa ser especial. Estar longe significa provocar e sentir saudades. E a saudade, quando pode ser morta, é um sentimento muito gratificante.
Estar longe também nos protege de muitas verdades que tentamos esconder. Protege-nos de nos apercebermos do distanciamento de quem gostamos mas que, afinal, se calhar, nem gosta assim tanto de nós. Permite-nos desculpas, desculparmos os outros, aqueles que queremos acreditar que só não comunicam porque estão longe, e a nós próprios com a “desculpa” do “estamos longe”. “Estamos muito longe” serve para tudo. Para o bem, para o mal, para a verdade e para a mentira. E, mais do que isso, se continuarmos sempre longe, nunca ninguém vai saber se é “desculpa” ou verdade.
Gosto de estar longe. Gosto muito de estar longe. Longe, só com o meu núcleo familiar juntinho a mim porque esses são sempre indispensáveis. Não preciso de mais ninguém fisicamente perto, mas preciso de tanta, tanta gente junto a mim. Preciso de todos os que amo e todos por quem tenho carinho junto a mim. Estar perto significa perceber distâncias, distanciamentos, afastamentos, desinteresses. Estar perto provoca angústia, faz-nos sentir “desamados”. Traz-nos dúvidas e certezas que não queremos ver.

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