20.3.07

foi / fui

Olho-te, com desconfiança. Conto um, dois três: vou dizer que te quero. Perco algumas das tuas palavras (que dizias?). Sim, já te apanhei. Insistes que o meu declarado amor não te ama. Só a mim. Não sei porque estás aqui comigo. Queres realizar-me? Então fode-me. Ou deixa-me passar as pontas dos dedos por toda a tua pele muito lisa. E depois a língua. Dá-me o teu cheiro a inspirar até ao fim, quando só sobrar sobre ti o sabor da minha saliva.
Inspiras-me. Dirias que a inspiração será minha, sempre minha, não tua. Nada fará por ti (pois não). Sei como ser musa não chega. Falas, ainda. Penso que as tuas palavras me mostram um homem bom. O que é a bondade? Intuo. Não sei dizer-te o que somos; calo-me. Estou atenta e apanho sinais que junto nos bolsos, sem taxonomias. Brinco com os teus dedos enquanto te recolho à mão-cheia. Falas e ouço. As tuas palavras sábias misturam-se com os movimentos dos teus lábios. Ouço um sussurro inaudível: quero beijar-te. Atento ao que dizes, mas deslocas o corpo e cheiro-te - quero-te.
A dúvida ganha expressão física, tão intensa como o desejo. A tua voz grave de veludo escuro desmaia sem eu querer, confunde-se com a noite. E eu queria a tua voz em mim, penso: nunca.

referer referrer referers referrers http_referer Weblog Commenting and Trackback by HaloScan.com